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Capítulo Dois: Surge um herói

Monteluce, Região Sul, 1991

A morte de Tevic e Murphy serviu como lição para qualquer indivíduo que um dia pensou em ir contra o governo militar.

A história da Guerra Civil que perdurou por longos vinte anos, que pareciam inacabáveis, era ensinada nas escolas, para reeducar a juventude.

Havia problemas no governo militar, o abuso de poder, falta de transparência na tomada de decisões, por outro lado, a economia havia voltado a andar, o poder de compra havia aumentado, a segurança era outro fator a se destacar.

Mas a atual geração não se sentia satisfeita. Os países vizinhos elegiam presidentes, eram livres para tomar suas decisões particulares e sociais, não eram vigiados a cada respirar. Os jovens, queriam a volta da democracia e que a República de Hagaka, voltasse a ter sentido em seu nome.

Ibério Timóteo, atual líder, buscava abolir cada vez mais, tais pensamentos. Propagandas nos jornais impressos, outdoors, rádios e televisão. Os canais de comunicação eram controlados e autorizados pelo governo, sem tal autorização, era ilegal seu funcionamento.

Porém, em Monteluce, na região Sul, jovens marcharam para as ruas e protestaram. Bandeiras da nação eram estendidas, as ruas eram tomadas por branco, vermelho e preto, as cores da bandeira.

Os militares acompanhavam a manifestação por questões de procedimento e garantia da segurança pública, era uma manifestação pacífica.

Os jovens, já estavam ao fim da avenida principal, o roteiro que enviaram para as autoridades, dizia que ao fim da avenida, eles se dispersariam e encerrariam a manifestação. Mas, ainda havia aqueles que buscavam o poder.

– Grieg na escuta? – Um homem acompanhava a manifestação de dentro de uma cafeteria. Ele bebia seu café enquanto lia os jornais, era um disfarce perfeito.

Em uma segunda-feira pela manhã, ninguém desconfiaria de um homem tomando seu café em uma cafeteria tradicional.

Com um fone ligado ao seu ouvido direito, ele se comunicava com um outro homem, que estava no topo de um prédio.

– Positivo, apenas esperando a confirmação de Dragomir. – Respondeu o homem que estava no topo do prédio.

– As bolsas já foram colocadas, resta apenas o saco de lixo com o restante, ao todo, temos dezenove prédios em zona de explosão.

– Garçonete! – O rapaz acenou.

A atendente saiu de trás do balcão, prontamente a atende-lo.

– Precisa de mais alguma coisa?

– Pegue este bilhete. – Disse ele estendendo a mão. – Eu não vou pagar a conta, mas ele salvará sua vida e de seus colegas. – Ele olhou para seu relógio de pulso, sabia que o caos estava prestes a se iniciar. – Eu gosto do café daqui, conheço todos que trabalham aqui e suas rotinas, então siga o que está no papel e fique em silêncio.

Assustada, a garçonete desdobrou o bilhete que recebera, mas tentou manter a descrição que o rapaz pediu.

“Há bombas no prédio, saiam pelos fundos, ou optem por morrer”.

Ela queria gritar, sentiu o desespero tomar conta de si, ele não parecia estar brincando. Rapidamente, ela levou as mãos até a boca, precisava se conter.

O homem se levantou calmamente e caminhou para fora do prédio. Pela vidraça, foi possível ver ele entrar em um táxi estacionado em frente à cafeteria.

– Sacos de lixo posicionados. – Anunciou um garoto que posicionava as bombas.

– Perfeito, Dragomir. Estou no táxi, esteja no ponto combinado.

– Positivo.

O homem dirigiu o táxi para a avenida principal, local da manifestação, seria a distração perfeita. Os manifestantes começaram a xinga-lo, outros faziam gestos obscenos, até que os policiais intervieram.

– O senhor precisa recuar, a via está interditada, há um retorno no quarteirão a esquerda. – Orientou um deles.

O plano seguia de acordo. Ele engatou marcha ré, acenou com a cabeça para o policial, e seguiu na direção que o policial havia aconselhado.

– Agora.

Grieg engatilhou o rifle, mirou no policial que havia conversado com o homem no táxi.

Respirou fundo, ajeitou o silenciador, e puxou o gatilho.

A bala acertou o pescoço do policial, sangue explodiu e os policiais procuravam os suspeitos dentro da multidão.

As pessoas se empurravam, reclamavam, não entendiam o que estava acontecendo.

– Estou descendo. – Disse Grieg.

– Estou no ponto da van. – Afirmou Dragomir.

Em alta velocidade, o táxi veio de encontro com a multidão, não parecia ter motorista, havia algo pesado no acelerador, e então, ao encontrar o povo, o veículo explodiu.

O que era uma manifestação pacífica, tornou-se um verdadeiro inferno.

Pessoas eram carbonizadas vivas, outros morreram com o impacto da explosão. Na correria, houve aqueles que foram pisoteados até a morte. A multidão correu desenfreada, e na direção contrária dos policiais, chocaram-se.

Tiros ecoavam, pessoas caiam, a paz que Timóteo teve para comandar o país por tanto tempo, havia acabado.

A van chegou no ponto combinado, Grieg e Dragomir entraram no veículo, e o motorista acelerou, era a chance de fuga perfeita.

– Conseguimos, Boromir. – Disse Dragomir.

– Timóteo Júnior terá uma desagradável surpresa.

– Isso que dá herdar o governo do pai e manter o mesmo nome. – Brincou Grieg.

– O que tem a ver? – Questionou Dragomir.

– Acaba atraindo o ódio que as pessoas tinham pelo pai.

– Pois é, agora resta a última parte, aonde está o detonador?

Dragomir tirou da mochila um controle remoto, ele estava conectado as bombas, mas a distância ainda não era o suficiente para que escapassem ilesos da explosão.

A alegria do trio acabou quando se depararam com uma interdição.

Militares armados barravam a passagem da pista.

A van parou, os três tentaram esconder o nervosismo, mas sabiam que ao se aproximar, seriam abordados, e se tentassem fugir, iriam voltar para a zona de explosão.

– O que faremos? – Dragomir estava desesperado.

Os outros dois ficaram em silêncio. Boromir e Grieg sabiam o que tinham que fazer, porém, se contassem para Dragomir, ele não toparia e colocaria o plano em risco.

– Dragomir, eu tenho um plano. – Disse Boromir.

– Qual?

– Confie em mim, vá até os policiais, e pergunte o que está acontecendo. – Instruiu Boromir.

– Mas…-

– Apenas faça, vai dar tudo certo.

O garoto desceu da van, e caminhou lentamente até os oficiais, até que ouviu o som do motor.

Grieg e Boromir estavam recuando, a cidade Monteluce possuía um grande centro de tratamento de combustível e outro de gás, eles morreriam com a missão concluída e estariam com a consciência tranquila, afinal Dragomir estaria vivo.

– Não deixem fugir!

Os militares entraram nos veículos e iniciaram a perseguição, mas por algum motivo, Dragomir ficou parado, e nenhum militar sequer havia olhado para ele. Boromir e Grieg entenderam na hora, era uma armadilha desde o início.

– Aperta o botão! – Gritou Grieg.

Boromir apertou o botão que explodiria as bombas em torno da cidade, que faria Monteluce beirar a extinção, mas nada aconteceu.

Ele pressionava com toda força, batia desesperadamente no controle buscando um sinal.

Enquanto o veículo seguiu em marcha ré, os dois tentavam explodir as bombas, mas nada funcionou.

Um dos veículos militares os jogou para fora da pista, e logo a van foi cercada.

– Saiam do veículo, imediatamente!

Com as armas apontadas para os dois, não restaram opções.

Dragomir caminhou até os dois que estavam ajoelhados no asfalto.

Ele abriu o sobretudo e o jogou no chão, revelando o uniforme do alto escalão de Hagaka, puxou seu cabelo e a peruca caiu, retirou a barba falsa e as lentes nos olhos.

– Desgraçado. – Resmungou Grieg.

– Não. – Disse Dragomir sinalizando para um dos oficiais que ia bater em Grieg.

Ele colocou a boina, assumindo o uniforme completo.

– Desculpe rapazes, eu sei que vocês acabaram gostando do Dragomir, mas ele não existe. – Sorriu. – Adam Lisec ao seu dispor.

– Ainda matou inocentes. – Zombou Grieg.

– Eu não, vocês. Porém, sacrifícios são necessários para alcançar certos objetivos.

– Vai nos matar ou vai nos prender? – Perguntou Boromir.

– Prender? Eu pareço policial? – Os militares riram. – Esse é meu exército pessoal. A família Lisec, está cansada da família Timóteo, por isso eu precisei de dois idiotas para causarem um estrago.

– Seu mis…

– Não me interrompa, Boromir. Com um pouco de bagunça, qualquer promessa vira prospecto de arrumação, logo estaremos no poder, e vocês…- Adam se afastou, recebeu um revólver de um de seus soldados. – Vocês estarão dançando no colo do capeta.

Dois disparos ecoaram, os corpos foram jogados na van, e o veículo que serviu de fuga, tornou-se uma lata em chamas que consumiam dois corpos.