Black Buffalo Publishing

Capítulo Quatro: Renegados

A fumaça da explosão da indústria de gás ainda pairava sobre a zona industrial de Blackbay, mesmo após três dias da explosão. Em algum prédio abandonado do beco das sombras, o Ceifador limpava o sangue seco da lateral da mascara enquanto desmontava sua arma em cima de uma bancada improvisada. Seus olhos estavam vermelhos e exaustos, mal piscavam enquanto retirava as peças da sua arma. Do outro lado da bancada, estava Ethan, sentado, analisava mapas em um dispositivo portátil.

– Estamos fora do radar da ASMH por enquanto, mas não vai durar muito, precisamos de aliados – Disse Ethan, ajustando o mapa no dispositivo.

O ceifador riu, um som rouco e amargo.

– Aliados? Você quer reunir outro grupo de vigilantes? Graves Isso te lembra alguma coisa? Porque o que eu lembro são corpos empilhados e promessas quebradas…

– Não estou falando da U-Força, isso aqui não é uma nova geração, mas sim a última chance…. não de vencer, mas expor o que a ASMH esta fazendo.

O ceifador empurrou a arma desmontada para o lado e suspirou.

– Ok, Ethan e onde conseguiríamos aliados?

Ethan apontou para um ponto no mapa de Hagenos, uma ilha ao norte.

– Porto Vale, a ASMH não tem controle lá.

Ethan e Ceifador pegaram um trem que sairia de Blackbay para o interior, era um trem antigo. Havia resquícios da civilização da Terra em Hagenos, cada vez que o trem seguia seu caminho a visão decadente dos prédios de Blackbay dava espaço para vales de pinheiros negros e lagoas de águas doces. Enquanto Ethan anotava cada ponte enferrujada. A cada ponto que passavam, o Ceifador ficava cada vez mais impaciente, afiava suas facas e observa a paisagem.

O trem chegou na última estação, uma vila de mineradores, lá eles compraram lugares em um velho cargueiro, no qual seu capitão aceitava munição como pagamento. O cargueiro cortou alguns rios até chegar no oceano de Hagenos. A medida que ele entrava no vasto azul, os sinais de guerra iam desaparecendo. Nada de arranha-céus, fábricas ou céu poluído. No horizonte, apenas pássaros e alguns caranguejos gigantes.

A noite o oceano era coberto por algumas algas bioluminescentes que boiavam, a ASMH não fazia patrulhas tão longe da costa. Não havia portos ou rotas de voo oficiais para aquele lado, o oceano de Hagenos era coberto de lendas dos antigos colonizadores que sumiram em suas correntes ou de ataques de criaturas marinhas não registradas.

Após quatro dias de viagem, era possível ver muralhas improvisadas, containers pintados com símbolos de caveira e guindastes que foram transformados em torres de vigias, Porto Vale estava a frente.

Totalmente diferente de Blackbay onde a ruina industrial dominava, em Porto Vale a natureza havia engolido a ferrugem, passarelas suspensas entre coqueiros gigantes, enquanto alguns pássaros de penas roxas faziam ninhos em turbinas que serviam de moinhos.

Ethan e ceifador desembarcam e seguiram em direção ao mercado central de Porto Vale, passaram por algumas tendas no quais os produtos se misturavam entre frutas, cereais e armas contrabandeadas, já o  calor neste lado do globo fazia os habitantes daquele lugar usarem uma mistura de roupas militares com peças tropicais. O Ceifador retirou seu capuz e sentiu o cheiro de liberdade.

– Então a liberdade tem cheiro de sal e pólvora molhada.

Após andarem por uma longa estrada de chão ate o bairro leste, eles chegaram ao destino, o armazém 9. Um armazém feito de bambu onde dois cachorros mecânicos rosnavam, dentro do armazém viram um homem de aproximadamente dois metros  com um martelo batendo em algumas placas de metal.

O homem se virou em direção ao dois, era Titânio, antigo membro da U-Força, seu corpo era feito de metade carne e metade maquina.

– Ceifador, pensei que você tinha virado pó junto com sola. – Disse ele com uma voz mais robótica que humana.

Ceifador retirou sua mascara revelando seus olhos cansados e um sorriso torto.

– Morri lá, o que voltou foi isso aqui.

Titânio caminhou em direção a Ethan e cumprimentou ele com sua mão robótica.

– Precisamos de você. – disse Ethan sem perder tempo ao cumprimentar o Titânio.

Ethan começou a projetar hologramas, onde listas de metas e vigilantes do passado estavam sendo eliminados, enquanto Titânio analisava as ameaças.

– Então os chefões de Hagenos decidiram brincar de deus outra vez, mas porque vocês não avisaram a nova U-Força?

Ceifador fincou a faca na bancada.

– A nova U-Força tem boas intenções, mas não passam de crianças brincado de justiça e a atual líder é boa, mas quer seguir as regras e nos não iremos fazer isso.

Titânio soltou uma risada metálica enquanto olhava para o Ceifador.

– Ah ceifador, lembro de você e a nova líder da U-Força, antes da guerra, antes da merda toda, você sabia Ethan que eles tinham um caso e que o Ceifador era um idealista? Um arqueiro em uma armadura brilhante e olha para ele não passa de um destroço do passado.

Titânio deu dois passos para trás e se sentou em uma cadeira, enquanto continuava seu discurso.

– Aquele dia em Sola foi um inferno, eu me lembro de tudo, lembro do Ceifador ou Águia como era chamado naquela época tirando as crianças da cidade, lembro da Psique a atual líder da U-Força e namoradinha dele, segurando os destroços que cai dos prédios com sua telecine e do Cosmo, sobrevoando a cidade atrás do Necronio que havia sido sequestrado pela Irmandade Sombria e ai toda a merda aconteceu, Profeta Sombrio entrou na mente do Necronio e fez ele perde o controle e explodir levando Sola junto.

Ethan caminhou em direção ao Titânio, mas  o mesmo continuava a falar.

– Sabia que eu estava a poucos metros da explosão, deveria ter morrido aquele dia também, mas o calor da explosão ativou os últimos recursos da minha armadura que eu usava, então ela se fundiu a minha própria carne para me salvar, mas eu estava ali vendo Necronio explodir, vendo a onda da explosão destruir os edifício, e pude ver as pessoas, elas corriam e gritavam, enquanto suas peles eram arrancadas e queimadas diante a min, e agora vocês me mostram que a ASMH quer acabar com os únicos metas que correram para dentro do inferno, enquanto eles se escondiam atras de mesas, eu estou dentro.

Durante as semanas que seguiram, os três transformaram Porto Vale em sua nova base. Ethan negociava com os anciões da ilha, trocando algas luminosas por rádios antigos e peças de um antigo dirigível que havia caído na ilha. Ceifador se tornou o recrutador encontrando Mamba, uma assassina que foi treinada pela máfia japonesa de Takada, mas que agora era caçada pelos mesmos após matar o chefe da máfia. Também encontrou O Cérebro, era um garoto franzino com espinhas na cara e Ceifador sabia que ele não era nenhum lutador ou meta, mas sua fraqueza em luta era compensada por sua inteligência com tecnologias e armas improvisadas.

Titânio continuou com seu serviço antigo, criando novas oficinas e próteses para refugiados que foram amputados, aos poucos os três ganharam o respeito e confiança dos moradores da ilha. A noite os três se reuniam no antigo dirigível. Ethan e Titânio revisavam os registros que tinham capturado da ASMH.

– Droga, a operação Genesis Inversa não é apenas o fim dos metas e vigilantes, ela é uma nova arma ou tipo de controle, que merda como não pensei nisso.

Titânio puxou as imagens projetadas e encontrou silhuetas em câmeras de congelamento, o que parecia ser soldados com implantes injetados diretamente no cérebro.

-Se isso sair do papel….Hagenos vai vira um planeta sobre o controle remoto da diretoria da ASMH – Disse Titânio com um tom mais sério.

 – Então deixamos eles virem, quero ver até onde essas máquinas conseguem, antes de caírem – Falou Ceifador que se encontrava em um canto afiando um pequeno machado.

Ethan encarou por um momento Ceifador e Titânio, e pensou que os dois eram como peças de xadrex, peças que sangravam mas que nunca cairiam.

– O que começou com uma fuga virou algo, agora temos um propósito, temos Porto Vale e a partir de agora o que vier enfrentar os renegados não sairá de pé.