Capítulo um: A guerra civil de vinte anos
A república de Hagaka, era uma pequena nação no continente de Éstios, sendo rodeada por duas grandes potências e sendo disputada pelas mesmas.
O ano era 1900, e as tensões políticas e sociais eram palpáveis pelo povo hagakaense.
O atual governo, era negligente com suas tarefas democráticas, pendendo suas decisões para ideias socialistas, mas este não era o maior dos problemas.
A grande corrupção respingava nas pequenas corrupções do dia a dia. Pessoas se preocupavam em se avantajar em relação as outras, alcançar conquistas de forma suja e desonesta.
Tamanha hipocrisia permitia que os políticos se escondessem no “jeitinho hagakaense“.
O índice de criminalidade também estava cada vez maior, com furtos e latrocínios liderando as estatísticas.
Outro problema daquele governo, era a manipulação das grandes mídias e a imensa influência que aqueles governantes possuíam nos canais de comunicação aberto a população.
Com tantas reclamações, parte do povo fechava seus olhos para o problema em prol de defender seus políticos favoritos, suas ideias pobres de realizações, e suas falsas promessas de amor.
Não demorou muito para que a censura, ainda que de forma silenciosa, encontrasse os opositores ao governo.
Com tantos problemas emergindo, alguns cidadãos buscavam os jornais como forma de denunciar os problemas, mas nada adiantava, afinal, a lei só era funcional para a oposição.
Somente em junho de 1990, que o período de votação foi aberto. Na verdade, poucos eram os candidatos para aquela eleição presidencial, e eram eles: Jean Illiev, candidato pelo Partido Comunista; Phillips Smith, candidato pelo Partido Liberal Nacional; Auff Vanroth, candidato pelo Partido Social Nacional; e Vicent Bruine, que buscava a reeleição pelo Partido dos Defensores do Povo.
A nação se dividiu em duas partes; A primeira parte acreditava que a reeleição de Vicent Bruine, daria tempo maior de mandato, e que com isso, ele conseguiria diminuir a inflação e injetar dinheiro público nos setores públicos. Por outro lado, Auff Vanroth, tomou a atenção dos conservadores do país. Vanroth, possuía formações acadêmicas que eram invejáveis, uma oratória incomparável, e buscava corrigir todos os problemas do país de forma simples.
O dia da eleição havia chegado. Illiev e Smith não chegaram a dez por cento dos votos, e com um empate de quarenta a quarenta, Vanroth e Bruine iriam disputar um segundo turno de votações.
As pessoas se reuniam, acompanhavam as apurações nos jornais e nas rádios.
Passou-se um mês e as votações para o segundo turno foram iniciadas, a população estava ansiosa e tensa ao mesmo tempo.
Pessoas discutiam nas ruas, nos locais de votação e até mesmo em suas casas. A situação em que o país se encontrava, fez com que muitos eleitores passassem a olhar de outra forma para a política.
Infelizmente, o país tornou-se totalmente polarizado, com pessoas sendo amadas ou odiadas pelo lado em que mostrava apoio.
Quando a noite chegou, o resultado saiu, Vicent Bruine havia sido reeleito com uma vitória de cinquenta e quatro contra quarenta e cinco por cento dos votos.
O anúncio mudou a história de Hagaka para sempre.
Ruas fechadas, prédios depredados, pneus queimados. A população ia para as ruas e descontava seu ódio em qualquer coisa que via.
As forças policiais eram acionadas e confrontavam os manifestantes, não havia acordo.
A cada dia que se passava, o terror aumentava, não se tratava de um determinado grupo revoltado, o povo estava quebrado.
Noção de humanidade, sensação de derrota, medo de um caos ainda maior, o cenário permitia uma mistura de sentimentos.
Vincent Bruine decretou em rede nacional que todos que estivessem envolvidos nessas manifestações, eram inimigos declarados do Estado.
Foi no dia 26 de agosto, que iniciou os vinte anos mais sombrios de Hagaka.
Pela manhã, foi anunciado pela imprensa a seguinte manchete:
“Vincent Bruine e sua esposa foram encontrados mortos no salão presidencial”.
A polícia tinha uma nova missão, segurar toda a população.
Opositores e aliados de Bruine tomaram as ruas e se confrontaram.
O primeiro encontro e relato registrou trinta e sete feridos e dez mortos.
A paz havia acabado.
Gerard Ahmet, vice-presidente assumiu o cargo de presidente, e ordenou toque de recolher.
Todo trabalhador ou estudante que estivessem na rua após as vinte horas, deveriam apresentar para a autoridade que o abordasse, o documento de identidade e uma carta que comprovasse sua matrícula escolar ou registro trabalhista.
Aqueles que não o faziam, eram mortos e considerados conspiradores de traição.
As investigações sobre o assassinato do casal Bruine foram interrompidas e arquivadas.
As manifestações diminuíram, mas ainda aconteciam.
A guerra civil iniciou-se. De um lado os Revolucionários que lutavam a favor do governo de Bruine, e do outro lado, os Nacionalistas, que lutavam contra o atual governo e seus ideais socialistas.
Para os Nacionalistas, Hagaka estava fadada ao fracasso, mas havia esperança de criar uma nação próspera e com potencial de se tornar uma grande potência mundial.
Para os Revolucionários, Hagaka estava no caminho certo, mas o governo precisava de tempo para atingir seus objetivos.
Contrabandistas passaram a armas os dois lados da guerra, lucrando fortunas e mais fortunas. O governo e suas forças armadas conseguiram segurar os dois grupos por alguns meses, mas os recursos ficaram escassos, e não demorou para que os militares se dividissem e tomassem seus lados na guerra.
As cidades eram invadidas por um dos exércitos, e tomavam posse.
Os Revolucionários, defensores dos direitos humanos e da paz, deixavam tudo isso de lado quando tomavam uma cidade. Eram comuns cenas de tortura, incêndios e depredação pública, até mesmo crimes sexuais eram cometidos. No entanto, os Nacionalistas cometiam as mesmas atrocidades.
A situação piorava a cada ano.
Quando a guerra chegou ao décimo ano, o país estava totalmente consumado pela guerra, com os dois grupos dividindo o país no Tratado de Paz de Nikolá Tevic.
Nikolá Tevic, um dos líderes Nacionalistas, entendeu que naquele momento, Norte e Sul estavam igualmente divididos.
Os revolucionários tinham posse do Norte e da região Centro do país, enquanto os Nacionalistas comandavam todo o Sul.
Tevic, se reuniu com o presidente Gerard Ahmet, e com Hugo Miralles, um dos líderes Revolucionários.
O acordo, assinado pelos três e assegurado e honrado por toda nação, garantia a permanência dos Revolucionários na região Norte, e dos Nacionalistas na região Sul. A região Centro seria evacuada pelo exército Revolucionário, e entraria como posse governamental, não podendo ser atacada ou ocupada por nenhum dos dois grupos.
O Tratado também defendia que a região Central, asseguraria proteção para habitantes das regiões Norte e Sul que quisessem migrar para o Centro.
Após o acordo, a situação melhorou, ainda que pouco, os conflitos armados passaram a ser conflitos políticos.
Como jornais, propagandas, e até mesmo equipes esportivas eram criadas para serem representações de cada lado.
A guerra civil ainda estava em curso, mas agora era uma corrida por controle populacional.
O que alguns passaram a chamar de guerra fria, passou mais rápido que se imaginava. Com um novo aumento na inflação, Sul e Norte passaram a pressionar o governo por mudanças.
Os Nacionalistas e os Revolucionários se juntaram, e os últimos dois anos da guerra civil, tornaram-se os mais sangrentos em todo seu decorrer.
Sendo o novo alvo de dois exércitos que ganharam apoio populacional, o governo precisava se defender primeiro, e depois estabelecer a ordem, no entanto, as tropas do Sul e do Norte, criaram o que ficou conhecido como “O Cerco dos Polos”.
Com a região Centro cercada, Ahmet tirou sua própria vida.
O suicídio de Ahmet, fez um movimento militar surgir, e uma semana depois, Ibério Timóteo, Major da Força Aeronáutica de Hagaka, foi colocado como presidente.
Após a posse, Timóteo liderou as forças militares para o Norte, iniciando o Plano de Retomada do Poder.
Durante este ato, o governo declarou a renúncia dos atos democráticos, assumindo de forma legítima o controle militar.
Durante um ano, os Revolucionários lutaram no Norte contra as forças do governo, mas se viam cada vez mais próximos da derrota.
Os Nacionalistas, comandados por Tevic e por Thomas Murphy, romperam a aliança com as forças Revolucionárias, anunciando sua rendição.
Com o Sul reestabelecido, o Norte perdeu força, e a guerra foi vencida pelo governo. Timóteo, reunificou Hagaka, executou os líderes Nacionalistas e Revolucionários em praça pública e foi decretado ali, a morte dos traidores do Estado.