Black Buffalo Publishing

Capítulo Um: Ceifador

A chuva caia forte nos telhados enferrujados de Blackbay como se o próprio céu quisesse varrer aquela cidade da face de Hagenos, a chuva se misturava com as nuvens de fumaça produzidas pelas chaminés das fábricas da Zona Ferroviária e as ruas estavam alagadas e com o cheiro do lixo que estava nas calçadas.

Os cidadãos buscavam segurança sob os canos expostos e dutos dos prédios enormes, mas a palavra segurança não existia no dicionário de Blackbay, as fachadas dos prédios exibiam cartazes da ASMH a Agência de Segurança Meta-Humana, eles diziam manter a ordem mais na prática, apenas vigiavam os meta-humanos como se fossem bombas relógios, prontos para explodir.

Já U-Força Reformada, que em outros tempos foi o símbolo da justiça, hoje era uma sombra e uniformes apodrecendo em algum galpão e ninguém mais os temia, mas isso não importava para o Ceifador pois ele não era mais um herói e sim um caçador e naquela noite ele tinha uma caça.

No alto de uma torre de comunicação abandonada, onde um dirigível militar uma vez colidiu décadas atrás, o Ceifador ajustava o seu binoculo e visualizava no Distrito Industrial, um velho armazém que deveria estar vazio naquela noite, mais não estava.

O armazém pertencia aos Constanzon, uma família criminosa que prosperava vendendo armamento de guerra, mais segundo uma mensagem anônima um carregamento secreto havia chegado ao local, não se sabia quem tinha enviado, mais na mensagem aparecia apenas um nome, Vito, o braço direito da família Constanzon.

O Ceifador ajustou a alça de sua capa encharcada pela chuva e conferiu suas armas, duas pistolas automáticas, uma escopeta de tambor rotativo, e uma pistola com silenciador e mira holográfica.

Ele desceu por uma viga e se pendurou num guindaste desativado que levou até a janela do armazém, lá dentro era um labirinto de caixas e geradores antigos exalando vapor, os Ventiladores de tetos giravam causando um enorme barulho e criando sombras na parede do armazém.

O Ceifador avançou sem fazer barulho e logo avistou o primeiro guarda, um brutamonte que carregava rifle com carregador estendido, o Ceifador acertou um disparo na nuca, silencioso e certeiro, que derrubou o brutamonte como um fantoche sem cordas

Dois outros capangas se aproximaram, alertados pelo som da queda daquele brutamonte, quando viram o cadáver no chão acabaram não prestando atenção nas sombras atras deles, donde surgiu o Ceifador que não hesitou, disparando dois tiros no peito de um e uma bala cravada no crânio do outro.

O som de mais corpos caindo foi o suficiente para o alarme ser acionado, logo o armazém se encheu de luzes vermelhas piscando, o barulho do ventilador agora ocupava espaço com os passos das botas e gritos dos capangas, o Ceifador sabia que seu plano de ser sorrateiro tinha ido agua abaixo e em sua cabeça só passava uma palavra.

— Merda.

Indo para trás de algumas caixas ele trocou de arma, agora ele tinha em mãos as duas pistolas automáticas e começou trocar disparos contras os capangas, o armazém havia se transformando em uma dança de projeteis voando pelo ar e capangas caindo ao chão

Foi então que surgiu Vito com seu 1,64 de altura vestindo um colete reforçado com tubos hidráulicos e nas mãos, carregava algo maior que ele, um lança-mísseis experimental, com símbolos da ASMH que havia sido raspados à força, deveria ser uma arma ainda experimental, já que parecia instável e soltando faíscas elétricas.

— Ei, seu bastardo imundo! Você mexeu com a família errada!

Vito Gritou e logo apertou o gatilho.

O projétil saiu na velocidade de um motor a jato, o Ceifador se jogou para um lado, mas a explosão o lançou contra uma pilha de tonéis de querosene, o armazém tremeu e poeira cobriu o ambiente e o silencio reinou, mais no meio daquele silencio, podia se ouvir a risada de Vito, que caminhava entre os corpos, se glorificando que era o único que havia acabado com o pesadelo que era o Ceifador, mais logo sua arrogância acabou quando a poeira revelou uma figura de pé

No meio da poeira o Ceifador surgia, coberto de poeira e com a máscara rachada sobre o olho direito e caminhava em direção a Vito com um olhar frio.

— Isso não é possível…, murmurou Vito.

Tremendo, tentou recarregar o lançador, girando a manivela de compressão mais era tarde demais.

O Ceifador avançou com a escopeta em mãos e disparou contra Vito, com o impacto a perna esquerda de Vito explodiu e ele caiu como um saco de areia gritando de dor, o sangue correndo pelo o que tinha sobrado da sua perna logo se misturou com a agua da chuva que escorria dos furos do tetos que o combate havia proporcionado

Vito levantou seu braço e tentou negociar

— Por favor… eu pago… me diga qual é seu preço…

O Ceifador encostou o cano ainda quente na testa suada de Vito e disse.

— Não se trata de dinheiro. Nunca foi.

Um último disparo ecoou pelo armazém e tudo ficou em silencio a não ser o zumbido de um drone da ASMH que passava perto dali.

O Ceifador recolheu os arquivos de cima do escritório de Vito no segundo andar do armazém, eram alguns dados de armas experimentais da ASMH, contatos da Constanzon e localização de novos depósitos.

Lá fora, a chuva continuava castigando Blackbay, os raios refletiam nas vidraças dos grandes prédios e os dirigíveis patrulheiros cruzavam lentamente as nuvens, enquanto alto-falantes anunciavam o toque de recolher obrigatório.

Mas nas sombras o Ceifador seguia em frente.